Abril - uma ressonância

29.4.05

Amigos,

Um amigo, talentoso e sensível, me enviou o poema abaixo, eco da canção que partilhei dias atrás, " Nessas segundas de abril " .
Vejam que beleza!

Gerson

Abril

Abril, abril é cruel!
Não é a mesma crueldade do hemisfério norte.
Por aqui os dias encurtam
Encurtam tanto que os olhos perdem a referencia solar.
17:30 é noite.
Assim ficará até o inverno passar.
Na minha casa tem um lugar chamado área de luz,
Que fica meses sem a luz direta do sol.
Depois de Abril até Novembro.

Em Campinas sopra um vento frio,
Nas tardes curtas e lindas.
Parece que a solidão dos que vivem nessa cidade,
Fica mais doída e aguda.
Quem revelará o sentido do 'modus vivendi'?
Dos seus solitários habitantes.
Que não se encontram só por se encontrar
E não se visitam sem antes telefonar.

Não lamento mais a solidão,
Como disse o poeta ela é um estar em mim.
Lamento a distância que impomos uns aos outros,
Com muros que tentam proteger,
Mas que acabam por sacralizar o tédio
e esterilizar as prosas, inviabilizando a poesia.

É preciso dizer do orgulho, camuflador da tristeza.
Daqueles que dizem que aqui não é interior,
Ou, atualizando a expressão: é quase primeiro mundo.
Ah! quanta riqueza desperdiçada,
Nos fins de semana esvaziados de shoppings cheios.
Quanto esforço para manter vínculos superficiais,
Cheios de aparências familiares e cordiais.
Aparências, o que haverá além das aparências?
Abril é um mês cruel!

Sebastião Molina sanches
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